quarta-feira, 23 de julho de 2014

EL PULPO A LA GALLEGA Y LOS BRAZOS DE UNA AMISTAD


Durante os 12 anos que vivi na Espanha provei muito da famosa culinária mediterrânea, mas infelizmente deixei de conhecer a bela Galícia, região de alguns dos melhores pratos espanhóis.
Já de volta ao Brasil vou tentando reproduzir alguns pratos que comi ali, mas nunca tinha me aventurado a preparar um dos meus favoritos: pulpo a La gallega. Isso se deveu a duas coisas essenciais. Não encontrava polvos grandes e tampouco o pimentão vermelho em pó e picante que se polvilha por cima dessa iguaria.
Quando minha futura esposa Adriana (vamos nos casar quando eu completar 83 anos e queremos morar em uma residência para terceira idade gay em Barcelona) me visitou aqui na praia de Taipus de Fora, onde moro, e me trouxe o delicioso tempero, essencial à preparação do prato, um dos empecilhos foi superado.
Esta semana o Jonaldo me trouxe um polvo enorme, que ele mesmo caçou, e ficou resolvido o segundo problema.
Peguei a receita na internet e coloquei mãos à obra.
Enquanto cozinhava, como é de costume, comecei a lembrar de coisas do passado.
Veio-me à mente uma cena que compartilhei com Adriana em março de 2010...
Estava cuidando do meu amado Jair no Hospital de La Esperanza, em Barcelona. Eram tempos difíceis, por razões que todos já sabem...
Como fazia cada final de tarde, dei banho no Jairzinho, coloquei-lhe roupa limpa e o coloquei na cama, quase tudo isso assistido por Adriana. Logo me sentei ao seu lado no sofá do quarto de hospital e começamos a conversar.
Lá pelas tantas a Adriana me disse.
_ Aiii, Mario... Você bem que podia ser um pulpo!
Eu não estranhei que ela utilizasse palavras espanholas no meio de uma frase em português ou vice-versa. Adri sempre adorou misturar os dois idiomas (ou três, quando havia algum catalão por perto) e isso sempre fez com que sua dialética adquirisse um charme todo especial e me deixasse em estado de graça cada vez que conversássemos sobre qualquer tema. Mesmo porque, quando é algo que interesse à Adriana ela fala... E fala... E fala...
_ Porque você queria que eu fosse um polvo? _ perguntei, sem que houvesse conotação sexual nenhuma nessa tradução. Explico: “polvo” dito em espanhol é algo assim como um ato sexual...
_ Porque se você fosse um pulpo teria oito braços prá me abraçar!
Depois de controlar o riso disse a ela:
_ Sabe Adriana? Os amigos, tal qual os polvos, sempre tem muitos braços para nos abraçar. Esses braços nos alcançam nos momentos mais inesperados. Nem sempre estão por perto, nem sempre estão disponíveis, nem sempre estão visíveis, mas esses braços sempre nos trazem carinho, nos devolvem a ilusão e nos fazem enxergar a vida com mais beleza e com menos peso, e ainda tem a vantagem de não nos sufocar com o aperto.
Envolvi a Adriana em um abraço de oitenta braços e ficamos em silêncio, observando nosso amigo que descansava tranquilamente, envolto, ele também, no nosso abraço de amor.

p.s. O "PULPO A LA GALLEGA" ficou delicioso!!!! Sérgio, Jonaldo e eu comemos de lamber os dedos. Infelizmente não tínhamos uma cerveja Estrella Galicia para acompanhar, mas a Skol bem gelada serviu.

Um comentário:

Adri Sans disse...

Você sim é cheio de graça!!!! Adorei!!!! e com certeza, me senti abraçada, querida e amada!!! Só você mesmo para estar tao longe e tao perto!!! A data do nosso casamento se aproxima!!! Com certeza seremos felizes, temos a bençao do Jair, que aonde estiver, sempre estará conosco. Te amooooo!!! Beijos

Total de visualizações de página