quinta-feira, 31 de julho de 2014

MUDE O FOCO!

Você saiu para almoçar com alguém e, na hora que pergunta o que a pessoa vai comer, ela te responde com um “estou tranquilo”, ou com um “to di boa”.
Você sente vontade de esganar a pessoa?
Não pensa que a criatura está de sacanagem contigo?
Não seria melhor ela responder com um “estou sem fome” ou com um “o que você escolher está bom prá mim”?
Já pensou em mudar o foco da sua vida?
Exatamente: O FOCO! Não a forma de viver, a profissão, a cidade ou os gostos. Mas aquilo em que você precisa colocar toda a sua atenção e imprimir a intensidade necessária para que seus sonhos se realizem e você se torne uma pessoa mais feliz consigo mesma.
Muitas vezes ficamos pensando em mudar tudo na vida, mas isso é muito complicado. Pode ser que passemos toda a nossa existência pensando em dar um pontapé em tudo e sumir no mundo. Ou pode ser que nos submetamos a uma vida de resignação, pensando que somos incapazes de mudar o rumo ou o ritmo da nossa história.
Mas existe uma coisa que podemos fazer sem muitos traumas, sem magoar ninguém e sem correr tanto o risco de quebrar a cara mais prá frente: MUDAR O FOCO.
Veja bem: você é daqueles que leva uma vida sedentária, está constantemente na frente do computador, engordando e colando as articulações? MUDE O FOCO! Pense nas suas articulações, em como elas estariam melhor se saíssem para dar um passeio. Pense nos seus olhos que estariam menos cansados se o seu horizonte se expandisse para o resto da casa, para a rua, para a praia. Pense em como você teria até mais disposição ao voltar a sentar-se em frente ao computador e poderia compartilhar novas experiências nas redes sociais.
Você não está contente com seu trabalho, mas também não pode se dar ao luxo de pedir demissão? MUDE O FOCO! Pense no seu trabalho como fonte de renda! Depois pense no trabalho como uma diversão. Logo pense no trabalho como algo prazeroso. Se nada der certo, ao menos você continuará trabalhando enquanto manda um monte de currículos para outras empresas e passe a se FOCAR em arranjar outra ocupação.
Quando mudamos o foco mudamos nossa perspectiva, experimentamos novas sensações e vemos nossa vida de outra forma. Talvez até venhamos a compreender que, durante um almoço, quem nos responda “estou tranquilo”, vai estar querendo dizer que não tem muita fome ou que o que você escolher estará bom para ele também, porque talvez, e só talvez, o FOCO dessa pessoa não seja nem a comida, e sim o prazer de desfrutar alguns momentos ao seu lado.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

EL PULPO A LA GALLEGA Y LOS BRAZOS DE UNA AMISTAD


Durante os 12 anos que vivi na Espanha provei muito da famosa culinária mediterrânea, mas infelizmente deixei de conhecer a bela Galícia, região de alguns dos melhores pratos espanhóis.
Já de volta ao Brasil vou tentando reproduzir alguns pratos que comi ali, mas nunca tinha me aventurado a preparar um dos meus favoritos: pulpo a La gallega. Isso se deveu a duas coisas essenciais. Não encontrava polvos grandes e tampouco o pimentão vermelho em pó e picante que se polvilha por cima dessa iguaria.
Quando minha futura esposa Adriana (vamos nos casar quando eu completar 83 anos e queremos morar em uma residência para terceira idade gay em Barcelona) me visitou aqui na praia de Taipus de Fora, onde moro, e me trouxe o delicioso tempero, essencial à preparação do prato, um dos empecilhos foi superado.
Esta semana o Jonaldo me trouxe um polvo enorme, que ele mesmo caçou, e ficou resolvido o segundo problema.
Peguei a receita na internet e coloquei mãos à obra.
Enquanto cozinhava, como é de costume, comecei a lembrar de coisas do passado.
Veio-me à mente uma cena que compartilhei com Adriana em março de 2010...
Estava cuidando do meu amado Jair no Hospital de La Esperanza, em Barcelona. Eram tempos difíceis, por razões que todos já sabem...
Como fazia cada final de tarde, dei banho no Jairzinho, coloquei-lhe roupa limpa e o coloquei na cama, quase tudo isso assistido por Adriana. Logo me sentei ao seu lado no sofá do quarto de hospital e começamos a conversar.
Lá pelas tantas a Adriana me disse.
_ Aiii, Mario... Você bem que podia ser um pulpo!
Eu não estranhei que ela utilizasse palavras espanholas no meio de uma frase em português ou vice-versa. Adri sempre adorou misturar os dois idiomas (ou três, quando havia algum catalão por perto) e isso sempre fez com que sua dialética adquirisse um charme todo especial e me deixasse em estado de graça cada vez que conversássemos sobre qualquer tema. Mesmo porque, quando é algo que interesse à Adriana ela fala... E fala... E fala...
_ Porque você queria que eu fosse um polvo? _ perguntei, sem que houvesse conotação sexual nenhuma nessa tradução. Explico: “polvo” dito em espanhol é algo assim como um ato sexual...
_ Porque se você fosse um pulpo teria oito braços prá me abraçar!
Depois de controlar o riso disse a ela:
_ Sabe Adriana? Os amigos, tal qual os polvos, sempre tem muitos braços para nos abraçar. Esses braços nos alcançam nos momentos mais inesperados. Nem sempre estão por perto, nem sempre estão disponíveis, nem sempre estão visíveis, mas esses braços sempre nos trazem carinho, nos devolvem a ilusão e nos fazem enxergar a vida com mais beleza e com menos peso, e ainda tem a vantagem de não nos sufocar com o aperto.
Envolvi a Adriana em um abraço de oitenta braços e ficamos em silêncio, observando nosso amigo que descansava tranquilamente, envolto, ele também, no nosso abraço de amor.

p.s. O "PULPO A LA GALLEGA" ficou delicioso!!!! Sérgio, Jonaldo e eu comemos de lamber os dedos. Infelizmente não tínhamos uma cerveja Estrella Galicia para acompanhar, mas a Skol bem gelada serviu.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

UMA SAUDADE CHAMADA CATALÔNIA

Uma das primeiras coisas que faço, sempre que vou a São Paulo, é visitar uma feira livre. Isso por duas razões: comer o pastel de feira no local legítimo e procurar por uma verdura que, não sei por que razão, só encontro em São Paulo: a catalônia.
Nessa última viagem não foi diferente. Comprei um maço enorme, já que o Sérgio, meu companheiro de viagens turístico-degustativas, também queria provar, pois não conhecia.
O ser humano é mesmo um bicho engraçado. Não consegue fazer nada sem apelar a elucubrações mentais e analogias entre presente, futuro e, principalmente, passado. Comigo não foi diferente.
Enquanto lavava e cortava as folhas da dita verdura, lembrei-me de minha mãe fazendo o mesmo processo há muitos anos atrás.
Como a catalônia é uma verdura amarga, a maior parte dos meus irmãos (e somos muitos!) a detestava, mas eu sempre adorei e minha mãe sabia disso. Era outro dos seus carinhos comigo. Cada vez que a visitava ela fazia questão de preparar catalônia e outras coisinhas mais.
Foi quando começava a aferventar a verdura, já picadinha, é que me toquei de uma coisa: na vida só comi catalônia preparada por mim ou por minha mãe, e esse laço voltou a se estreitar naquele momento. Me dei conta de que nenhum outro alimento me unia tanto à memória da dona Rosa ( que já vive na dimensão dos anjos há alguns anos) quanto a catalônia. Nenhum outro prato tem o sabor amargo (nem por isso menos saboroso), quanto a saudade que sinto daquela que me gerou, embalou, criou e protegeu durante tantos e tantos anos. E nenhum sabor é tão amargo que possa fazer com que deixe de sentir saudades daqueles que amo.
Não senti a mão etérea da dona Rosa mexendo a panela comigo, nem senti seu beijo de lábios finos no rosto, mas olhei para o teto do apartamento e imaginei ali um céu de concreto de onde ela pudesse estar me observando, bem de perto, e fiscalizando para saber se eu tinha aprendido direitinho como se prepara a catalônia.
Depois de conter as lágrimas acabei de cozinhar...

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O AMOR QUANDO ACONTECE - Introdução

INTRODUÇÃO

Ângela se irritou quando, ante toda aquela paisagem paradisíaca, avistou uma garrafa afundada na areia. Era uma tarde de março, quando o calor e a brisa se juntam para anunciar que o outono já se aproxima e logo vai esfriar em todo o litoral paulista.
Chovera na noite anterior e agora ela se lembrava da canção de Tom Jobim, que entoara em duo com Tatiana: “...são as águas de março, fechando o verão... É pau é pedra, é o fim do caminho!” Essa canção as tinha ajudado a decidir adiar noite a viagem, com medo de que caíssem árvores pelo caminho ou que a chuva tornasse o trajeto perigoso.
Tinham pego a estrada pela manhã, já sem chuva. Agora, caminhando pela praia, ainda podia visualizar o efeito da chuva na região. Muitas folhas ainda verdes se misturavam com as já amareladas e marrons, trazidas pelo mar agitado, formando na areia um mosaico multicolorido que, felizmente, estava pouco salpicado de objetos que não fossem orgânicos, arrumados ali pela própria natureza.
Talvez tenha sido pelo fato de haver poucos detritos poluentes na praia que seus olhos ficaram alerta àquele ponto específico. Em outra praia mais poluída provavelmente a garrafa não lhe chamasse a atenção.
_ Não adianta! _ resmungou para si mesma _ Por mais que tentemos conscientizar, há pessoas que continuam atirando lixo na praia.
Surpreendeu-se ao ver que a garrafa estava completamente vedada com uma rolha atada ao gargalo por uma cordinha e o que pareceu alguma resina vedando completamente a boca. Ao levantá-la viu que havia um papel dentro, cuidadosamente atado com uma fitinha vermelha. A corda amarrada à rolha também estava delicadamente trabalhada com nós de macramê.
“Um náufrago?”
Imediatamente se arrependeu desse pensamento idiota, pois um náufrago, muito provavelmente, não teria recursos para vedar a garrafa daquela forma, atar sua carta com uma fita vermelha, vedar a rolha com resina ou mesmo dar nós de macramê para enfeitar sua mensagem de salvação.
Tentou abrir a garrafa ali mesmo, mas ficou evidente que necessitaria alguma ferramenta para a tarefa. Dirigiu-se à casa de Tatiana e, depois de pegar um saca-rolhas e uma faca, se meteu no quarto e cortou o dedo antes mesmo de conseguir chegar até a rolha.
“Quando você vai aprender a controlar a ansiedade?” Perguntou-se.
Respirou fundo, se sentou na borda da cama com a garrafa na mão direita. Meteu o dedo indicador da mão esquerda na boca, para chupar o sangue, e se dedicou à tarefa pacientemente.
Removeu a resina, cortou a cordinha e pegou o saca-rolhas.
A cortiça esfarelou quando tentou arrancá-la da boca da garrafa. Empurrou-a para dentro e pensou que tinha o caminho livre para o papel meio enrolado que parecia querer revelar-lhe um grande segredo.
Mas a tarefa não foi assim tão fácil, já que não conseguia tocar com o dedo no papel, para puxá-lo para fora, e o rolo era mais grosso que a abertura na boca da garrafa.
Depois de pensar por alguns instantes, se lembrou de um prendedor de cabelo, em formato de agulha de tricô, feito de bambu, que trazia na mala.
Usou a faca para partir a ponta do prendedor em duas, formando uma espécie de pinça, que introduziu pela boca da garrafa. Com essa pinça prendeu uma ponta da folha de papel e a enrolou, para que seu diâmetro diminuísse e passasse, finalmente, pelo gargalo.
O que estava escrito no papel mudaria sua vida para sempre!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

MATADOR DE ALUGUEL COM LER (Completo)

MATADOR DE ALUGUEL COM LER (Lesão por Esforço Repetitivo)

A doutora Silvana iniciou mais um dia de trabalho no posto rural onde vinha atendendo há mais de dois anos. Além disso, como tinha uma especialização em animais peçonhentos, sempre era consultada por pesquisadores do Brasil e do exterior interessados em seus estudos relacionados a serpentes como jararacuçu e cascavéis. Acabara de etiquetar alguns frascos que iria mandar para o Instituto Vital Brasil, quando se sentou para pegar o prontuário do primeiro paciente daquele dia.
“Austregésilo de Athaíde Filho, idade 52, solteiro, profissão indefinida”.
Estranhou o nome, por considerá-lo literário demais para uma cidade sem biblioteca e com uma escola pública das mais deficitárias que tinha notícia.
Abriu a porta e pediu ao caboclo para entrar.
_ O que está sentindo, senhor Austregésilo?
_ Uma dor aqui no braço, fia.
Mostrou o cotovelo direito e indicou a parte lateral, onde corriam os tendões.
_ Parece uma tendinite.
Fez com que o homem fechasse a mão e a abrisse. Depois pediu que tentasse estirar o dedo médio, enquanto ela forçava para evitar.
_ Dói?
_ Dói, sim, fia.
_ É tendinite, mesmo. Aqui na ficha do senhor está “profissão indefinida”. Pode me dizer qual é a profissão do senhor?
O homem tinha roupas surradas e simples, mas sem remendos e sem parecer que se dedicava à lavoura.
_ Posso não, fia?
_ Eu preciso saber a que profissão o senhor se dedica, para saber que procedimentos tomar. Uma tendinite tem que ser tratada de acordo com as atividades do paciente. Entende?
_ Entendo, sim, doutora. Mas num posso dizer minha profissão.
_ O senhor é agricultor?
_ Não, sinhora.
_ Então me diz o que faz normalmente para ter provocado uma tendinite.
_ Num posso, não, senhora.
_ Escuta, seu Austregésilo. Não sei o porquê dessa insistência em me dizer a que se dedica. Mas pode confiar em mim. Nós médicos temos a obrigação de manter em sigilo as informações confidencias dos pacientes.
_ É perigoso prá sinhora saber minha profissão.
Silvana estava mais curiosa ainda e resolveu arriscar-se.
_ O senhor pode me contar que isso ficará apenas entre nós. Nem vou colocar na ficha.
_ Sei não...
_ Juro por tudo o que há de mais sagrado, seu Austregésilo. Eu nunca revelo os segredos de meus pacientes.
O homem virou a cabeça de um lado para o outro, resmungou, consultou seus botões e esfregou a imagem de nossa senhora Aparecida que levava numa correntinha no pescoço.
_ Dona, eu vou dizer, mas se a sinhora dissé prá polícia eu mato vossuncê.
_ Pode falar, criatura de Deus.
_ Eu sou matadô!
_ Co... Como?
_ Isso mesmo, dona. Sou matadô de aluguer.
Ela respirou profundamente para digerir a informação. Quando conseguiu dominar o medo resolveu aprofundar suas informações.
_ Senhor Austregésilo, o senhor mata tanta gente a ponto de disparar todos os dias?
_ Moça! Si eu matasse tanto assim já tava milionário.
_ Então treina muito?
_ Claro, moça. Todo dia eu treino. Mas as bala é caro, então fico só fingindo que atiro nas latinha e apertando o gatilho.
_ Entendo. Não é de se estranhar que tenha essa tendinite. O senhor já matou muita gente?
_ Mais ou menos. Num passa de cem.
A naturalidade com que deu essa informação foi tão desconcertante que Silvana acabou de relaxar.
_ Mulher, homem...?
_ Mais homi que muié. Não gosto de matá muié. Só quando é pricisu mesmo. Muié-dama então num mato mesmo.
_ Posso perguntar por quê?
_ Muié-dama tem a vida muito sofrida, moça. Quando mato alguma muié normalmente é por causa de ciúme do marido. Muié-dama num tem marido e também num tem que ser fiel a ninguém. Ah! Criança também num mato, não sinhora!
_ Até quantos anos o senhor acha que alguém é criança.
_ Doze, treze anos. Depois disso já sabe o que tá fazenu. Si bem que conheci um mininu de nove anos que parecia ter o diabo no corpo. Esse eu matei mesmo. Nem precisô de encomendar.
Silvana achou que já tinha escutado demais.
_ O senhor vai ter que deixar esse braço imobilizado uns quinze dias, enquanto toma anti-inflamatório.
_ Mais, moça... Acho que na semana que vem tenho um trabalhinho prá fazê. Além do mais tenho essa tremedeira na mão que às vezes me faz errar na primeira.
_ O senhor bebe?
_ Bebo não, moça.
_ Essa tremedeira pode ser um sintoma de Parkinson. Nós temos um tratamento experimental que eu posso passar pro senhor. Mas vai ter que me prometer usar sem ninguém saber. Assim eu guardo o segredo do senhor e o senhor guarda o meu. Fechado?
_ Fechado, moça. Si a sinhora promete que vou parar com essa tremedeira, minha boca vai ser um túmulo.
Silvana saiu da sala e foi até o cubículo onde guardava seus medicamentos e os venenos que recebia para enviar para análise. Pegou uma cartela de comprimidos e um frasco lacrado, contendo um líquido transparente. Do frasco retirou o adesivo e colou só a pontinha na borda da mesa e pegou uma seringa e agulha descartáveis antes de voltar para sua sala.
_ Senhor Austregésilo, na casa do senhor tem fogão à lenha?
_ Tem sim, moça.
_ O senhor vai me prometer utilizar esse medicamento e depois jogar a seringa e o frasco vazio no foto, prá que ninguém saiba que fui eu quem lhe deu o medicamento. Promete?
_ Prometo, moça.
_ Pois bem. Vou receitar pro senhor anti-inflamatório para a tendinite. Na próxima vez que o senhor for contratado prá fazer um “servicinho” o senhor, uma noite antes, vai tomar três comprimidos desse calmante _ entregou-lhe o sonífero que tinha pego de suas amostras – e aplicar todo o líquido deste frasco no ombro. O senhor dá conta de se aplicar uma injeção no ombro?
_ Claro que sim, moça. Sou cabra-macho!
_ Estou contando com isso. Mas não esqueça de tomar os três calmantes antes, que é pro senhor não sentir nenhuma dor quando o medicamento estiver fazendo efeito. Entendeu?
_ Entendi sim, sinhora.
_ Pois bem. Depois que o senhor aplicar todo este medicamento no ombro o senhor joga a seringa e a agulha no fogo e vai prá cama. No dia seguinte não vai ter nenhuma tremedeira para disparar. Está certo?
_ Tá certo.
_ Agora o senhor vai até a farmácia e compra este remédio prá tendinite _ assinou uma receita e entregou ao matador, que a dobrou e colocou no bolso.
_ Obrigado, moça.
_ De nada. Só lembrando que tanto o calmante quanto o ve... medicamento injetável só devem ser tomados caso o senhor seja contratado para matar alguém.
_ Certo.
_ E ninguém pode saber que fui eu quem lhe deu esses medicamentos.
_ Num si preocupe, moça. A sinhora tem um segredo meu. Eu tenho um segredo seu. Estamos quites.
O homem saiu e Silvana esboçou um sorriso triste e enigmático ao mesmo tempo. Depois voltou para a salinha de medicamentos, pegou o adesivo e o colocou em outro frasco com o mesmo líquido que entregara ao paciente. Nele se lia:
“Cuidado! VENENO DE JARARACUÇU!”
*******

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

UM DIA DA PESCA OUTRO...

Depois dos 50 anos resolvi me dedicar à pesca.
No final do ano, depois de pedir umas aulas práticas ao Francisco, marido de Fabiana, ganhei do mesmo uma vara completa com molinete e tudo.
O e-mail, enviado hoje ao Francisco e à Fabiana, revela como vai essa minha nova aventura.

Queridos Fabiana e Francisco.
Depois de uma tentativa malograda de pescar com camarões vivos, com direito a enrosco num ingazeiro, quando Jonaldinho tentava “pescar” algum pássaro invisível aos olhos deste pobre mortal, decidi comprar iscas artificiais, como Francisco tinha sugerido.
O vendedor me indicou duas iscas excelentes para robalo e tucunaré, peixes que o grande pescador me disse serem comuns no local secreto.
Cheguei hoje de Ilhéus com as iscas e meu fiel escudeiro Jonaldo não queria esperar até amanhã.
Juntamos isopor, vara com molinete, iscas, alicates e uma sacola para acomodar essas criaturas aquáticas, que seguramente traríamos para uma breve hospedagem em nosso freezer.
Ao chegar ao local secreto, eu de sandálias, mas com calça comprida para evitar picadas de mosquitos, deixei cair a sandália na barragem e acabei descalço do pé direito. Menos mal, porque minha visita ao ortopedista em Ilhéus, além de confirmar a tendinite no cotovelo esquerdo, antes diagnosticada pela maravilhosa Fabiana, também constatou que tenho um esporão, herdado de minha mãe, no pé esquerdo, que acabou protegido pela outra sandália.
Prontamente Jonaldo atravessou a pista e foi verificar ao outro lado da barragem se a sandália perdida não tinha aparecido por lá. Voltou e a resposta foi negativa.
Primeiro embate entre pescador de primeira viagem e natureza vencido pela natureza...
Não me deixei abater e coloquei a primeira isca na ponta da linha, lancei uma vez à água e nada. Lancei uma segunda vez e já comecei a sentir a tendinite dando sinais de não ter remitido com a infiltração feita no dia anterior.
Finalmente, depois de algumas lançadas de isca, decidi que era hora de colocar a outra, para despistar os animaizinhos estes com apenas 4 segundos de memória.
Meu braço já doía muito, mas queria ser o primeiro em lançar essa preciosa isca à água.
Resultado: ela avistou aquele mesmo pássaro imaginário, descoberto pelo Jonaldo na semana passada, e foi buscá-lo no ingazeiro.
Pensa que eu desanimei?
Que nada!
Deixei a vara com o escudeiro e fui em busca da isca no pé de ingá.
Subi nos galhos, alertado pelo Jonaldo que eram fracos, e consegui visualizar a isca presa no alto da frutífera. Quando puxei esse galho para baixo, acredita que o galho que me sustentava não aguentou?
Pois é, em fração de segundos o galho e eu fomos abaixo, bati com as costas em um galho mais baixo e dei com a bunda (não com os burros!) na água, sendo que um outro galho se enroscou por dentro da minha camiseta. Pernas afundadas na água, tentava desesperadamente me levantar, quebrando todos os galhos aos quais me agarrava (como o Jonaldo alertara, eram fracos!), quando me veio à mente, de forma imperativa, uma frase dita pelo Francisco em nossa primeira visita à lagoa secreta dos robalos e tucunarés: “os nativos não entram nessa lagoa porque afirmam que está cheia de sucuris enormes!”
Desesperei-me de vez! Agarrei um galho mais forte, rasguei a camiseta tentando me levantar e quase senti uma enorme boca de sucuri me agarrando por trás. Felizmente era apenas outro galho me arranhando as costas.
“Seu Mário! Seu Mário! O senhor tá bem?”
Era o Jonaldo quem tinha largado a vara e vinha em meu socorro.
Depois de constatar que tinha todos os ossos inteiros, sosseguei-o e fui resgatar a isca, trepando de novo em um galho do ingazeiro e ajudando, dessa vez, a me sustentar com as mãos em um galho mais alto e forte.
Alcancei a isca e disse ao Jonaldo: “Vou jogar na água e você puxa”. Joguei, ele puxou e enroscou de novo na árvore.
Claro!!!
Ele puxou mais, arrebentou a linha e a isca foi parar sabe Deus onde!
Eu pensei ter ouvido uns peixinhos batendo barbatanas... ou seriam palmas?
Segundo embate vencido pela natureza.
Como já estava molhado e descalço, atravessei a pista e ao menos resgatei a sandália.
Voltei ao nosso posto de pesca e Jonaldo já estava prendendo a primeira isca na ponta da linha.
Dessa vez não quis arriscar e deixei que escudeiro lançasse uma, duas, trinta vezes a isca e nada.
Algumas estrelas já piscavam no céu, morcegos davam rasantes na água e mosquitos perturbavam bastante.
“Vamos embora, Jonaldo?” Convidei.
“Vou jogar só mais uma vez, seu Mário”.
Lançou e teve uma maravilhosa surpresa: a linha esticou e esticou e a vara curvou.
“Seu Mário, peguei alguma coisa!”
Ele puxava e o peixe não vinha.
“Esse é grande, seu Mário!”
Com toda a minha experiência, alicate e lanterna nas mãos, eu indicava ao Jonaldo o que fazer: “folga a linha e enrola o molinete! Puxa e solta e enrola o molinete! Deixa eu ajudar a puxar!”
O danado do peixe se meteu embaixo do ingazeiro e não vinha de jeito nenhum. Eu esperando e já imaginando a cara do Sérgio e do Antônio quando a gente chegasse à pousada com aquele enorme robalo.
“Puxa, Jonaldo” Eu continuava incentivando. “Afrouxa um pouco. Puxa agora!”
Resultado: a linha arrebentou e lá se foi outra isca com peixe para o fundo do lago secreto!
Terceiro embate com terceira vitória da natureza.
Não me pergunte o preço das iscas prá não me deixar com mais vergonha.
Pensa que desanimei? De jeito nenhum!
Voltamos prá casa e demos altas gargalhadas contando tudo para o Sérgio e para o Antônio.
Afinal, de que serviriam essas coisas se não fossem para nossa própria diversão?
Beijos e esperem notícias nossas.
Mário (com alguns arranhões no corpo e hematomas na alma).

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

POEMAS AO MAR - 11

O MAR QUE SE NAVEGA SÓ (primeira parte)


Um dia navegarei por esse mar,
Mais só que em minha primeira viagem.
Um dia lhe contarei
Meus últimos anseios
E ele me falará de aventuras.
Um dia minha alma será dele
E ele a conduzirá pelas águas eternas.
...


Este é o último poema do projeto "POEMAS AO MAR".
Neste projeto pretendo ter as primeiras partes de 11 poemas publicadas aqui no blog e as segundas partes lançadas ao mar, dentro de garrafas como essa da fotografia. O projeto inclui ainda um livro com o mesmo título, que ainda estou escrevendo e que pretendo publicar em breve. No final do livro também estarão os poemas completos.
Quem encontre a segunda parte (como essa dentro da garrafa) poderá optar em escrevê-la em um comentário aqui no blog ou em minha página do facebook: https://www.facebook.com/mario.delima
Lançado ao mar na península de Maraú, Bahia, praia de Taipus de Fora, no dia 20 de março de 2014 às 11:13h.

Poema encontrado na península de Maraú, praia de Taipús de Fora, na direção do Farol de Taipus no dia 21 de março de 2014, por David Pimenta. No meu comentário o poema completo.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

POEMAS AO MAR - 10

PÁGINA VIRADA (primeira parte)


Agora,
Quando a saudade,
Mais que esperança,
É uma medida de distância,
Ouso falar desse amor.
Não foram as águas que nos separaram.
Não foi o vento que correu entre nós.
...


Este poema faz parte do projeto "POEMAS AO MAR".
Neste projeto pretendo ter as primeiras partes de 11 poemas publicadas aqui no blog e as segundas partes lançadas ao mar. O projeto inclui ainda um livro com o mesmo título, que ainda estou escrevendo e que pretendo publicar em breve.
No final do livro também estarão os poemas completos.
Quem encontre a segunda parte (como essa dentro da garrafa) poderá optar em escrevê-la em um comentário aqui no blog ou em minha página do facebook: https://www.facebook.com/mario.delima

domingo, 5 de janeiro de 2014

POEMAS AO MAR - 9

BEIJA-FLOR (primeira parte)


Fui surpreendido
Por um beija-flor na praia,
Beijando a flor da maré.
“Lógico”, pensei.
...




Este poema faz parte do projeto "POEMAS AO MAR".
Neste projeto pretendo ter as primeiras partes de 11 poemas publicadas aqui no blog e as segundas partes lançadas ao mar. O projeto inclui ainda um livro com o mesmo título que ainda estou escrevendo e pretendo publicar em breve. No final do livro também estarão os poemas completos.
Quem encontre a segunda parte (como essa dentro da garrafa) poderá optar em escrevê-la em um comentário aqui no blog ou em minha página do facebook: https://www.facebook.com/mario.delima

Este poema foi lançado ao mar no dia 02 de maio de 2014, na praia do Recreio, Rio de Janeiro, às 6:07h, quando foi gravado um vídeo para ser exibido no programa "ENCONTRO COM FÁTIMA BERNARDES, da Rede Globo.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

POEMAS AO MAR - parte 8

CANÇÃO DE NINAR PARA LÍVIA (primeira parte)

Escute o mar,
Minha pequena:
Chuá... Chuááá...
Ele vai te ninar.
Escute a brisa, pequena:
Vuuuuu... Vuuuuuu...
Ela vai te acalmar.
Nenhum boi de cara preta
Vai poder te assustar.
...


Este poema faz parte do projeto "POEMAS AO MAR".
Neste projeto pretendo ter as primeiras partes de 11 poemas publicadas aqui no blog e as segundas partes lançadas ao mar. O projeto inclui ainda um livro com o mesmo título que ainda estou escrevendo e pretendo publicar em breve. No final do livro também estarão os poemas completos.
Quem encontre a segunda parte (como essa dentro da garrafa) poderá optar em escrevê-la em um comentário aqui no blog ou em minha página do facebook: https://www.facebook.com/mario.delima

O oitavo poema da série "POEMAS AO MAR" também já viaja pelo Atlântico. Eu o lancei ao mar em Salvador, Bahia, na praia do Rio Vermelho, em frente à praça da Mariquita, às 15:27h do dia 10 de março de 2014.

Total de visualizações de página