A MULHER-CEBOLA
Não sabe quando foi a primeira vez
Que colocou uma capa
Essa mulher.
Mas sabe que funciona como escudo,
Contra todos,
Contra tudo.
Sabe que a cada nova sensação
Utiliza como proteção
Uma nova capa.
A cada nova ferida
Não se dá por vencida
E coloca outra capa.
E, se o ferimento se renova
Não é a mesma capa que prova
E sim uma nova capa.
A cada capa que arranca
Outra capa aparece
Ao se despir essa mulher.
Chorar não é questão de mostrar-se
Talvez nem por desejo seja.
Talvez só seja uma fase
Entre a que te fere e a que te beija.
Poucos sabem o que se passa
Ao sacar dessa mulher todas as capas.
Ao chegar ao centro e descobrir
Que já se perdeu há muito seus mapas.
Já que não há uma direção a seguir
Para chegar perto de sentir
Qual o poder que se esconde
Por debaixo dessas inúmeras capas.