sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

UM DIA DA PESCA OUTRO...

Depois dos 50 anos resolvi me dedicar à pesca.
No final do ano, depois de pedir umas aulas práticas ao Francisco, marido de Fabiana, ganhei do mesmo uma vara completa com molinete e tudo.
O e-mail, enviado hoje ao Francisco e à Fabiana, revela como vai essa minha nova aventura.

Queridos Fabiana e Francisco.
Depois de uma tentativa malograda de pescar com camarões vivos, com direito a enrosco num ingazeiro, quando Jonaldinho tentava “pescar” algum pássaro invisível aos olhos deste pobre mortal, decidi comprar iscas artificiais, como Francisco tinha sugerido.
O vendedor me indicou duas iscas excelentes para robalo e tucunaré, peixes que o grande pescador me disse serem comuns no local secreto.
Cheguei hoje de Ilhéus com as iscas e meu fiel escudeiro Jonaldo não queria esperar até amanhã.
Juntamos isopor, vara com molinete, iscas, alicates e uma sacola para acomodar essas criaturas aquáticas, que seguramente traríamos para uma breve hospedagem em nosso freezer.
Ao chegar ao local secreto, eu de sandálias, mas com calça comprida para evitar picadas de mosquitos, deixei cair a sandália na barragem e acabei descalço do pé direito. Menos mal, porque minha visita ao ortopedista em Ilhéus, além de confirmar a tendinite no cotovelo esquerdo, antes diagnosticada pela maravilhosa Fabiana, também constatou que tenho um esporão, herdado de minha mãe, no pé esquerdo, que acabou protegido pela outra sandália.
Prontamente Jonaldo atravessou a pista e foi verificar ao outro lado da barragem se a sandália perdida não tinha aparecido por lá. Voltou e a resposta foi negativa.
Primeiro embate entre pescador de primeira viagem e natureza vencido pela natureza...
Não me deixei abater e coloquei a primeira isca na ponta da linha, lancei uma vez à água e nada. Lancei uma segunda vez e já comecei a sentir a tendinite dando sinais de não ter remitido com a infiltração feita no dia anterior.
Finalmente, depois de algumas lançadas de isca, decidi que era hora de colocar a outra, para despistar os animaizinhos estes com apenas 4 segundos de memória.
Meu braço já doía muito, mas queria ser o primeiro em lançar essa preciosa isca à água.
Resultado: ela avistou aquele mesmo pássaro imaginário, descoberto pelo Jonaldo na semana passada, e foi buscá-lo no ingazeiro.
Pensa que eu desanimei?
Que nada!
Deixei a vara com o escudeiro e fui em busca da isca no pé de ingá.
Subi nos galhos, alertado pelo Jonaldo que eram fracos, e consegui visualizar a isca presa no alto da frutífera. Quando puxei esse galho para baixo, acredita que o galho que me sustentava não aguentou?
Pois é, em fração de segundos o galho e eu fomos abaixo, bati com as costas em um galho mais baixo e dei com a bunda (não com os burros!) na água, sendo que um outro galho se enroscou por dentro da minha camiseta. Pernas afundadas na água, tentava desesperadamente me levantar, quebrando todos os galhos aos quais me agarrava (como o Jonaldo alertara, eram fracos!), quando me veio à mente, de forma imperativa, uma frase dita pelo Francisco em nossa primeira visita à lagoa secreta dos robalos e tucunarés: “os nativos não entram nessa lagoa porque afirmam que está cheia de sucuris enormes!”
Desesperei-me de vez! Agarrei um galho mais forte, rasguei a camiseta tentando me levantar e quase senti uma enorme boca de sucuri me agarrando por trás. Felizmente era apenas outro galho me arranhando as costas.
“Seu Mário! Seu Mário! O senhor tá bem?”
Era o Jonaldo quem tinha largado a vara e vinha em meu socorro.
Depois de constatar que tinha todos os ossos inteiros, sosseguei-o e fui resgatar a isca, trepando de novo em um galho do ingazeiro e ajudando, dessa vez, a me sustentar com as mãos em um galho mais alto e forte.
Alcancei a isca e disse ao Jonaldo: “Vou jogar na água e você puxa”. Joguei, ele puxou e enroscou de novo na árvore.
Claro!!!
Ele puxou mais, arrebentou a linha e a isca foi parar sabe Deus onde!
Eu pensei ter ouvido uns peixinhos batendo barbatanas... ou seriam palmas?
Segundo embate vencido pela natureza.
Como já estava molhado e descalço, atravessei a pista e ao menos resgatei a sandália.
Voltei ao nosso posto de pesca e Jonaldo já estava prendendo a primeira isca na ponta da linha.
Dessa vez não quis arriscar e deixei que escudeiro lançasse uma, duas, trinta vezes a isca e nada.
Algumas estrelas já piscavam no céu, morcegos davam rasantes na água e mosquitos perturbavam bastante.
“Vamos embora, Jonaldo?” Convidei.
“Vou jogar só mais uma vez, seu Mário”.
Lançou e teve uma maravilhosa surpresa: a linha esticou e esticou e a vara curvou.
“Seu Mário, peguei alguma coisa!”
Ele puxava e o peixe não vinha.
“Esse é grande, seu Mário!”
Com toda a minha experiência, alicate e lanterna nas mãos, eu indicava ao Jonaldo o que fazer: “folga a linha e enrola o molinete! Puxa e solta e enrola o molinete! Deixa eu ajudar a puxar!”
O danado do peixe se meteu embaixo do ingazeiro e não vinha de jeito nenhum. Eu esperando e já imaginando a cara do Sérgio e do Antônio quando a gente chegasse à pousada com aquele enorme robalo.
“Puxa, Jonaldo” Eu continuava incentivando. “Afrouxa um pouco. Puxa agora!”
Resultado: a linha arrebentou e lá se foi outra isca com peixe para o fundo do lago secreto!
Terceiro embate com terceira vitória da natureza.
Não me pergunte o preço das iscas prá não me deixar com mais vergonha.
Pensa que desanimei? De jeito nenhum!
Voltamos prá casa e demos altas gargalhadas contando tudo para o Sérgio e para o Antônio.
Afinal, de que serviriam essas coisas se não fossem para nossa própria diversão?
Beijos e esperem notícias nossas.
Mário (com alguns arranhões no corpo e hematomas na alma).

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