segunda-feira, 7 de agosto de 2017

MARIA DE LURDES

CUNHADO (A) NÃO É PARENTE

Cunhado não é parente. Taí uma verdade que eu gosto sempre de repetir.
Entretanto um cunhado (a) acaba criando vínculos que muitas vezes vão além do parentesco. Ele (a) se relaciona com seu irmão (ã) diariamente e se seu vínculo com o irmão (ã) é forte, tende a criar uma relação intensa também com este não-parente. Logo virão os sobrinhos, os parentes dos não-parentes e toda uma fauna humana que pode ser deliciosamente sociável, ridiculamente agradável ou simplesmente insuportável.
Há casos mais delicados em que o cunhado (a) não-parente acaba se tornando até mais próximo que o seu cônjuge, formando aquilo que todos chamamos de “a família que escolhemos”. Nesta família cabem todos: parentes, amigos, cunhados, cunhadas e todos aqueles que merecem nosso carinho e respeito.
Há alguns dias perdi um destes não-parentes que faz parte da família que escolhi para mim.
A Maria de Lurdes não é só a mulher do meu irmão ou a mãe dos meus sobrinhos, nem apenas a avó dos meus sobrinhos-netos. Ela é uma luz que continuará brilhando em minha vida física e também em energia, quando eu coabitar a dimensão dos anjos ao seu lado. O brilho de seu olhar, a doçura de sua voz, a simpatia de seu sorriso e a honestidade de seus atos, seguirão povoando minhas memórias para sempre.
Não, Lurdes, você não partiu pura e simplesmente para outra dimensão. Hoje nós compartilhamos com os anjos a sua presença. Claro, eles estarão mais felizes, já que te têm em toda a plenitude. Nós, por enquanto, temos que nos contentar com as lembranças e com alguma fortuita visita em algum sonho, em um soprar de brisa, em um vislumbre da eternidade que agora rima com teu sorriso. Se neste momento, ouvirmos algum farfalhar de asas, algum riso tão infantil quanto verdadeiro, uma voz de alento, um simples suspirar de felicidade, saberemos que você continua a velar por nós, do mesmo modo que velamos tua memória.
Até sempre, amiga, e que os anjos te recebam de asas abertas!

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

ANGELS

PRIMEIRO BEIJO ENTRE ALFREDO E NOAH

Alfredo suspirava aliviado, enquanto a bexiga se esvaziava lentamente. Havia uma caixa de som no banheiro e ele seguia a música, tentando cantar baixinho, sem entender o que a letra queria dizer. Sua noção do idioma inglês era demasiado básica para que pudesse compreender a mensagem transmitida pela canção:
I sit and wait
Does an angel contemplate my fate
And do they know
The places where we go
When we're grey and old
'Cause I have been told
That salvation lets their wings unfold
So when I'm lying in my bed
Thoughts running through my head
And I feel the love is dead
I'm loving angels instead

Alfredo não percebeu quando Noah se aproximou, repetindo a letra, baixinho. Pensou que sonhava quando a voz foi soprada diretamente em seu ouvido e a respiração do amigo aqueceu aquele recanto entre a orelha e o pescoço. Seu corpo se arrepiou quando parou de urinar, como se um anjo tivesse escaneado seu corpo – ou seria pelo hálito quente do arquiteto em sua pele? – Fechou os olhos, sonhou com os lábios de Noah e, quando sentiu os braços enlaçando-o por trás, entregou-se aos devaneios impossíveis. Deu a volta, sem ousar abrir os olhos, e entregou seus próprios lábios, como quem dedica uma parte de si para manter alguém que ama respirando.
A língua macia de Noah aventurou-se por entre os dentes de Alfredo, abrindo caminho, buscando saliva e espalhando prazer. Passaria ali o resto da noite se fosse preciso. Apertou o corpo do jovem estoquista contra o seu e sentiu o sexo do outro crescendo entre suas pernas. Abriu os olhos para mergulhar naquele abismo escuro e sedutor do olhar de Alfredo e finalmente conseguiu se afastar apenas o suficiente para sussurrar:
– Vamos embora daqui?


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